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CARTA ABERTA

Outubro de 2017

INFRA 2038: UMA VISÃO DE FUTURO

  Não é segredo para ninguém que a infraestrutura brasileira é sofrível – e não é de hoje. Junto com outros fatores, como educação e ambiente de negócios (burocracia, corrupção, etc), compõe o que o professor Michael Porter chama de “factor conditions” de um país – sem os quais, simplesmente, não temos investimentos e crescimento econômico. Eles são a base de tudo, condições fundamentais para desenvolver a nação. Pois bem.

 

  Relatório deste ano da CNI, elaborado pelo economista Claudio Frischtak, mostra que atingimos vergonhosos 1,8% do PIB em investimentos em infraestrutura em 2016. Neste ano, devemos repetir – ou até piorar a dose. Deveríamos, de acordo com relatório de 2013 da consultoria McKinsey, investir 5,5% do PIB para que, em 20 anos, pudéssemos alcançar um “estoque” de ativos de infraestrutura da ordem de 70% do PIB – compatível com o de países desenvolvidos como EUA e Espanha (mas ainda longe do Japão, com incríveis 179%). Alcançar estes 5,5% não é impossível: de acordo com outro relatório da CNI, de 2015, esta é exatamente a taxa de investimento em infra que tínhamos na década de 1970 (não por acaso, a década onde o Brasil avançou mais em sua produtividade média, de acordo com estudo do Insper de 2014). A partir dali, a taxa caiu para 3,62% nos anos 80, 2,27% nos anos 90, e 2,12% nos anos 2000. A ligeira recuperação entre 2011 e 2014 (quando a taxa atingiu 2,26%) foi às custas de juros subsidiados pelo BNDES que mascaravam muitos projetos ruins, que além de não trazerem grandes retornos econômicos à sociedade, tinham frequentemente custos acima do de mercado – decorrência dos cartéis formados pelas empreiteiras. Como voltar ao rumo do desenvolvimento sustentável? A China tem investido 8,5% do PIB nestes projetos; Índia, 4,7%; e África do Sul, 3,4%. Como o Brasil também pode investir nos projetos certos, pelo menor custo possível e com o máximo retorno à sociedade?

 

  Só para deixarmos alguns números: em 2016, 6.405 pessoas morreram nas estradas brasileiras; 21.439 ficaram gravemente feridas. Nas Américas, só perdemos para Belize, República Dominicana e Venezuela – e precisamos entender que melhorar as estradas é salvar vidas. Vamos agora falar de saneamento básico? De acordo com o último estudo da ANA, apenas 61% do esgoto brasileiro é coletado, e deste apenas 43% é tratado. O resultado é que temos taxas de mortalidade infantil superiores à dos países vizinhos (não precisamos nem comparar com a Suíça). Também é possível associar a menor expectativa de vida ao problema do saneamento: temos média de 74,4 anos, contra 81,5 do Chile. Na economia, são diretamente afetados o turismo e o setor imobiliário, e indiretamente todos os outros setores (pelo afastamento dos funcionários por doença, pelo atraso nos dias de alagamento das ruas, etc). Um estudo do Instituto Trata Brasil estimou que serão necessários R$ 317 bilhões de investimentos no saneamento em 20 anos. Neste mesmo período, os ganhos econômicos seriam de R$ 537,4 bilhões – muito superiores aos custos da universalização. Mudando novamente de setor, estudo de 2016 da Confederação Nacional do Transporte estimou que o custo logístico – soma dos gastos com transporte, estoque, armazenagem e serviços administrativos – consome inacreditáveis 12,7% do PIB do Brasil (que, obviamente, são repassados aos produtos finais – encarecendo o consumo e reduzindo nossa competitividade mundial). Este número é quase 60% superior ao americano! E por aí vai.

 

  Neste contexto, no encontro anual da Fundação Lemann de 2017, um grupo de entusiastas pelo tema de infraestrutura – que haviam voltado de universidades como Harvard, Columbia e Oxford – resolveu se unir para tomar um café. De um simples grupo de WhatsApp surgiu algo enorme: o projeto Infra2038: a meta, nada modesta (no melhor estilo Jorge Paulo Lemann), é colocar nos próximos 20 anos o Brasil entre as 20 primeiras colocações no ranking de infraestrutura do Fórum Econômico Mundial (hoje ocupamos a posição #73).

 

  O projeto Infra 2038 será formalmente lançado em um evento no dia 5 de dezembro, em São Paulo, no qual convidaremos grandes nomes para debater como poderemos alcançar nossa meta. Para este primeiro evento, contamos com o apoio das Universidades de Harvard e de Columbia, do Insper, da Abdib, do Centro de Liderança Pública (CLP), do Instituto Semeia e da Um Brasil. além da parceria com o Instituto Infra Brasil. Este grupo de parceiros municiará o Infra2038 com o conhecimento e o networking necessários para fazermos a diferença e levarmos o Brasil a uma posição de destaque internacional.

 

  Na sequência, será criada uma estrutura permanente, em formato de Think Tank, que trabalhará como facilitadora, conectando todas as pontas do projeto e promovendo debates, publicando conteúdo relevante e participando de consultas e audiências públicas nas áreas de energia, saneamento, logística, infraestrutura urbana e infraestrutura social.

 

  Passar de 2,2% para 5,5% de investimento não será trivial – mas, com muito trabalho, chegaremos lá. Concessões e PPPs serão a alavanca deste crescimento, e em 20 anos poderemos ter orgulho de nossos aeroportos, dispor de uma energia mais barata e não perdermos 10% de nossa safra pelas estradas. Isso é desenvolvimento econômico, empregos e geração de renda! Isso é aumento de produtividade para a indústria e ganho de competitividade internacional. Governo, investidor e academia precisam trabalhar lado a lado para chegarmos lá: todos sairão ganhando. E, com um grupo como este, não tenho dúvida de que seremos vitoriosos.

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